409_zuccaro_webEu percebo que quando discutimos questões de segurança, temos a tendência de focar no pessoal de campo — pilotos, mecânicos e expedidores. Isto faz sentido, já que eles estão na linha de frente da segurança. Mas, gostaria de falar sobre outras partes interessadas na segurança, como as empresas operadoras/ os proprietários e suas gestões e os usuários ou clientes. Estes grupos também desempenham um papel muito importante nesta área, a partir do momento que criam uma cultura de segurança apropriada e apoiam a tomada de decisão do pessoal de campo em relação à segurança.

Enquanto operador e consultor de segurança, tive várias oportunidades de visitar outras operadoras. No entanto, muitas destas visitas me deixaram preocupado.

As minhas visitas começavam com a equipe de gestão, através da qual eu recebia informações sobre o compromisso das operadoras com a segurança e, também, sobre os programas e as políticas de segurança delas. Depois, eu me deslocava para o campo, onde os pilotos, mecânicos expedidores me contavam uma outra história.

Advertiam-me que as iniciativas de segurança existiam, sim, mas, em muitas ocasiões, eram negligenciadas – ou por causa da influência dos clientes ou por conta de situações econômicas; a equipe de gestão pressionava, às vezes, o pessoal de campo a realizar voos mesmo estando ciente de problemas de segurança.

É fácil apoiar a segurança, enquanto uma questão abstrata, quando não há nada em risco. Mas, fica muito mais difícil dizer “Estamos em apuros” quando você está arriscando um contrato, uma relação de negócios ou uma significante perda  financeira. A falta de compromisso com a segurança em situações como estas pode gerar resultados catastróficos. E, de verdade, se as questões de segurança não podem ser a sua maior prioridade nesses momentos críticos, você não tem então  um programa de segurança ou mesmo uma cultura de segurança dentro de sua empresa.

Uma outra obrigação dos proprietários/ das operadoras e da gestão é educar os seus clientes sobre segurança. Diga-lhes o porquê você não está levando adiante um voo ou porque está agindo para contornar riscos. De acordo com a minha experiência, quando os clientes são informados sobre os perigos e os seus efeitos nas condições do voo, a maioria deles fica grata pelos seus esforços em mantê-los vivos e seguros.

Também é interessante estabelecer um entendimento claro com os clientes sobre quem tem o controle operacional da aeronave. Ao mesmo tempo que os clientes podem e devem estar engajados na gestão de riscos, eles também precisam entender que a operadora, de acordo com as regulamentações dos EUA, tem autoridade final sobre o voo.

Um acidente que eu fiquei sabendo muito tempo atrás nos serve como um triste exemplo do que pode acontecer quando a segurança não é mais tida como prioridade número 1. Um cliente solicitou ao seu provedor de helicópteros um voo fretado no fim da tarde ao redor da cidade de Nova Iorque. A operadora fez uma revisão dos parâmetros de voo e cancelou o voo por causa do tempo. É importante mencionar que este cancelamento foi feito por uma operadora com acesso a dois tripulantes, ambos qualificados para operar sob as Regras de Voo por Instrumento (IFR), voando um helicóptero bimotor homologado IFR com um piloto automático totalmente acoplado.

Mais tarde, a operadora foi contactada por um executivo sênior do cliente. Ele estava muito chateado com o cancelamento e insistia que a operadora conduzisse o voo, insinuando que as ações da operadora estivessem colocando o contrato em risco. A operadora informou o executivo que a empresa estava pagando um valor muito alto para um transporte seguro e profissional, o qual os pilotos não poderiam fornecer, naquele momento, por causa das condições climáticas. Este voo não aconteceria.

Depois de terminar a conversa abruptamente, o cliente solicitou o voo  à outra operadora. Esta operadora aceitou fazer o voo noturno sob IFR usando uma aeronave monomotor que voaria sob Regras de Voo Visual (VFR). Já que a política do cliente exigia dois pilotos, a operadora convocou um outro piloto de helicóptero para atuar como copiloto, sendo que  ele não constava na lista de habilitados da operadora e nem do helicóptero.

Os dois pilotos fizeram manobras de VFR em condições climáticas favoráveis para o voo IFR, chegaram no local de encontro, embarcaram os passageiros e partiram. O voo durou pouco tempo, até a aeronave cair no oceano, matando todos a bordo.

Se o cliente tivesse realmente compreendido a decisão de não ir adiante com o voo da primeira operadora, eu acredito, honestamente, que  ele  não teria contactado a segunda operadora. Ah, e a primeira operadora, que desistiu do voo, não apenas aderiu ao contrato que tinha com o cliente, mas também acabou ganhando mais negócios.

Então, proprietários/ operadoras, o que vocês têm a dizer? Vocês, as suas equipes de gestão e os seus clientes apoiam as decisões do seu pessoal de campo? Vocês só operam quando podem manter a  segurança e o profissionalismo? Vocês falam por falar ou colocam as suas palavras em prática? Esta pode ser a linha divisória entre a vida e a morte.

Esta é a minha história e eu estou aderindo a ela. Cmpartilhe comigo o que você acha através do email [email protected].

Voe com cuidado e tenha uma boa viagem.

Atenciosamente,

assinatura

Matt Zuccaro é presidente da Associação Internacional de Helicópteros (HAI).

Fonte: HAI via HeliHub