Entrada inadvertida em IMC: Outro lugar que não sejam nuvens
31 de agosto de 2014 6min de leitura
31 de agosto de 2014 6min de leitura
O piloto fazia a sua última aproximação por instrumento para completar as exigências do Teste Prático para a Qualificação de Voo por Instrumentos em helicóptero e as condições climáticas eram excelentes. Quando atingiu a Altura de Decisão (DH), a examinadora gritou “pista à vista”. A aeronave estava um pouco à direita do curso e menos do que um ponto acima da glide slope. Não era uma aproximação perfeita mas, dentro dos padrões.
Confiante, ele suspirou aliviado, acreditando ter passado no teste de voo. Depois de uma positiva troca de controles, eles taxiaram até a rampa e desligaram os motores. Enquanto os rotores desativavam, a examinadora pediu que ele fizesse o cheque de abandono da aeronave e a encontrasse no escritório para finalizar a papelada.
Durante o debriefing, a examinadora elogiou o piloto pelo seu desempenho e lhe deu algumas sugestões de como melhorar. Ela concluiu a conversa lhe entregando o seu novo certificado temporário com as seguintes palavras impressas “Voo por Instrumentos em Helicóptero”. A examinadora desejou que ele aproveitasse bem este dia, porque “este será o seu melhor voo por instrumentos”.
Enquanto dirigia para casa, o piloto relembrava o seu teste de voo e refletia sobre o comentário de que “este seria o melhor de seus voos”. Ele estava incomodado e questionava o porquê da examinadora ter falado aquilo. Com tão pouco treinamento em voo por instrumentos, como isso poderia ser verdade? Com certeza, com tempo e experiência, ele poderia se aperfeiçoar. Naquele exato momento, ele comprometeu-se a se tornar o melhor piloto por instrumentos possível. De forma alguma, o dia de hoje definiria o seu melhor.
Muitos pilotos com habilitação de voo por instrumentos se identificam com esta situação. A noção de “use-o ou esqueça” é, de fato, verdadeira quando o assunto é manter a proficiência em voo por instrumentos. Como os helicópteros são operados predominantemente em condições de Regras de Voo Visual (VFR), e a maioria dos helicópteros não é certificada para voo por instrumentos (IFR), as habilidades relacionadas a este tipo voo tendem a ser desconsideradas. Mas, ao levar em conta as notícias de acidentes de helicóptero relacionadas às condições climáticas, fica claro que a proficiência em voo por instrumentos tem se tornado uma grande preocupação.
Condições meteorológicas adversas
Os pilotos de avião não homologados para voo por instrumentos podem perder o controle da aeronave em apenas 178 segundos, menos de 3 minutos, depois de entrarem em condições climáticas adversas. Pelo fato dos helicópteros serem inerentemente menos estáveis e, muitas vezes, menos equipados, leva-se menos tempo ainda para pilotos de helicópteros, igualmente qualificados, perderem o controle.
Sejam bem-vindos ao perigoso mundo das entradas Inadvertidas em Condições Meteorológicas de Instrumento (IMC).
Mas, o que é uma entradas Inadvertidas em Condições Meteorológicas de Instrumento?
Isto acontece quando um piloto entra em condições climáticas adversas, impedindo-o de manter referências visuais do solo ou horizonte. Estas condições são, obviamente, perigosas e desorientadoras.
A Federação de Administração da Aviação dos EUA (FAA) e outras partes interessadas, como a Equipe Internacional de Segurança de Voo para Helicóptero (www.IHST.org), estão à frente de várias iniciativas voltadas para a mitigação de acidentes causados por condições climáticas.
Em 2014, o Conselho Nacional de Segurança nos Transportes dos EUA (NTSB) incluíram operações de helicóptero na sua lista “Os 10 mais Procurados” e a FAA implementou novos regulamentos com o objetivo de reduzir estes tipos de acidentes. Além disso, especialistas em segurança da IHST têm desenvolvido e distribuído Boletins de Segurança, focados na questão das Inadvertidas-IMC.
Estatísticas Fatais
De acordo com estatísticas, mais de dois terços de todos os acidentes de helicóptero, relacionados às condições climáticas, terminam com pelo menos uma fatalidade…. um índice três vezes maior se comparado a todos os outros acidentes de aviação em geral. Um fator comum em muitos destes acidentes foi a decisão do piloto de prosseguir em condições que só pioravam.
Baseado no perfil das missões, os operadores de helicópteros aeromédicos (EMS) estão extremamente suscetíveis às Inadvertidas-IMC. Diariamente, tripulantes de EMS são forçados a pousar em campos cheios de obstáculos e outros perigos não visíveis. Um encontro inesperado com nuvens baixas ou neblina pode facilmente assustar qualquer piloto.
A Melhor Defesa
Evitar más condições climáticas é a melhor defesa. Mas, se pego em tais condições, o piloto deve desviar ou fazer um pouso de precaução o mais rápido possível. Nunca prossiga! Lembre-se, é melhor estar no chão desejando voar, do que voando e desejando estar no chão.
Se já possui qualificação para voo por instrumentos, o piloto deve realizar, regularmente, o maior tempo possível de voo por instrumentos em condições simuladas com um instrutor qualificado. Lembre-se, cada segundo conta quando você está tentando sair de uma entrada Inadvertida em Condições Meteorológicas de Instrumento. E, por fim, se você não tem homologação para executar voos por instrumentos, faça este investimento. Os treinamentos em voo por instrumentos melhoram a tomada de decisão aeronáutica e aprimoram significativamente as habilidades de pilotagem… um investimento de tempo e dinheiro que vale muito a pena.
Opções Fundamentais
Os pilotos possuem três opções fundamentais para saírem de uma entrada Inadvertida em Condições Meteorológicas de Instrumento: subir, descer ou reverter a direção.
Descer é a opção considerada mais arriscada; primeiro, porque envolve voar perto do solo e, segundo, porque tem chances de aumentar a velocidade do ar, resultando em menos tempo para se recuperar de situações incomuns.
Subir ou reverter a direção do voo, ou a combinação das duas, são provavelmente as opções mais seguras. Uma altitude adicional aumenta a distância do solo e melhora a recepção para o rastreamento de uma nova direção. Independente da técnica, manter o controle da aeronave é a maior prioridade. Os pilotos que se mantêm calmos e fazem mudanças mais sutis estão mais propensos a manter o controle, enquanto procuram céus mais seguros.
A esta altura, os pilotos devem tentar pousar o mais rápido possível para recuperarem a consciência situacional. Continuar voando em más condições climáticas jamais é recomendado. É preferível pousar e esperar o tempo melhorar do que ficar tentando completar uma missão que é, na verdade, impossível.
O recado é o seguinte: esteja preparado para aqueles dias em que as condições climáticas perfeitas repentinamente desaparecem. Invista nas suas habilidades e procure entender quais são as suas opções quando uma entrada Inadvertidas em Condições Meteorológicas de Instrumento-IMC ocorrer. Mesmo que você ache que as suas habilidades atingiram o seu auge, sempre há o que melhorar.
Dr. Steve Sparks é um Inspetor de Segurança de Aviação para a FAA, na cidade de Kansas (FSDO), especializado em fatores humanos, operações de helicóptero e iniciativas educacionais. Ele é instrutor de voo em helicópteros e é membro da Equipe de Segurança de Voo para Helicóptero dos EUA – Grupo de Trabalho de Formação.
Fonte: HeliHub
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