Um dia de serviço na Operação Verão – O salvamento e o reencontro com a vida
05 de fevereiro de 2013 4min de leitura
05 de fevereiro de 2013 4min de leitura
AMAURI DEMARZO
A história de uma ocorrência de salvamento aquático, com uso de puçá, durante a Operação Verão, ocorrida no dia 12 de janeiro de 2013, na Praia da Enseada, Guarujá, litoral de São Paulo.
Todo ano a Polícia Militar Paulista realiza a Operação Verão no litoral do Estado, mobilizando policiais, viaturas e helicópteros. Todo esse aparato busca garantir a segurança do cidadão que reside na região, bem como do turista que vai passar suas férias e desfrutar das praias paulistas.
O Grupamento de Radiopatrulha Aérea da Polícia Militar, nesse período, mantém cinco aeronaves no litoral, e foi num desses dias da Operação Verão que essa história aconteceu. O dia 12 de janeiro de 2013.
O salvamento
Depois de voarmos toda a manhã na prevenção dos banhistas nas praias do litoral centro, como muitas vezes acontece, nosso almoço foi interrompido. Era uma solicitação de apoio aos guarda-vidas temporários (GVTs) da Praia da Enseada, onde havia um afogamento em curso na parte central da praia, coincidentemente, próximo à nossa Base.
Paramos tudo que fazíamos e nos dirigimos ao Águia 07. Piloto e copiloto, rapidamente, acionaram a aeronave e confirmaram o local do socorro, guarda-vidas (GVs) se equiparam em segundos, tripulante operacional conferiu equipamentos e ancoragens dos GVs, mecânico pronto para liberação do helicóptero, abastecedor e policial afastaram o público e isolaram a área de segurança para decolagem.
Em menos de dois minutos já estávamos sobrevoando, não apenas a vítima que estava sendo socorrida pelos GVTs, uma mulher, que até então era o motivo da decolagem, como também um homem que quase submergia, afastado cerca de 200m da faixa de areia, que se não fosse o olhar atento da tripulação, não seria avistado em meio à espuma produzida pelas ondas.
Rapidamente foi realizado o circuito e o lançamento dos GVs no mar, bem como solicitado o puçá, pois estavam muito distantes da areia e o rapaz além de fraco, por tanto brigar com a correnteza, havia ingerido grande quantidade de água e estava quase desmaiando. Felizmente, já na primeira tentativa, tanto o guarda-vidas como a vítima, foram “pescados” pelo puçá e levadas à faixa de areia, onde o grau de afogamento, estado clínico e uso ou não de outros recursos seriam avaliados.
As imagens eram chocantes. Aquela moça, salva pelos GVTs segundos antes, era a esposa daquele homem por nós avistado e, ao seu lado permaneceu durante todo o atendimento. A URSA (Unidade de Resgate e Salvamento Avançado) do Corpo de Bombeiros foi acionada enquanto realizávamos os procedimentos para limpeza e reembarque do puçá na aeronave e aguardávamos notícias, tanto do estado clínico da vítima, como se seria necessária a condução ao hospital, caso a URSA demorasse para prestar apoio, pois era dito na rede rádio que o rapaz necessitava de maiores cuidados, que desacordava e expelia muita água.
Felizmente foi cancelado o apoio da URSA e descartado o transporte aéreo para um hospital, pois o rapaz se recuperou rapidamente. O suporte foi prestado há poucos metros de nossa Base, na praia da Enseada e, quando pousamos, tentamos conhecê-lo, mas não foi possível, pois decolamos para auxiliar uma incursão no Morro dos Macacos (Guarujá), em ocorrência de roubo.
Tivemos total certeza que neste salvamento fomos essenciais, vitais, pois os guarda-vidas tinham conhecimento apenas do afogamento da mulher e não tinham sequer condições de visualizar aquele homem e, mesmo que tivessem, estariam muito distantes e não chegariam a tempo. Toda a tripulação ficou muito emocionada e soube que naquele dia salvou uma vida.
O reencontro
Após duas semanas, um casal compareceu na Base de Ribeirão Preto e pediu para falar com os pilotos. O rapaz perguntou ao Cap PM Seminate: “lembra de mim?” Após alguns segundos de silêncio do Capitão, ele complementou: “fui eu quem o senhor salvou no Guarujá”.
Matheus, que até então era “alguém” que tínhamos salvo, agora é um novo amigo não só do Grupamento Aéreo, como da Polícia Militar. Naquele dia, enquanto fomos apoiar o policiamento local, ele perguntou aos Guarda-Vidas sobre a tripulação do Águia 7 e para a sua surpresa, ficou sabendo que éramos de Ribeirão Preto (assim como ele, morador do bairro Campos Elísios) e, juntamente com sua esposa, foram até o Aeroporto Leite Lopes para cumprimentar-nos.
Uma série de coincidências, procedimentos bem executados e muito comprometimento que marcaram estes dois dias, o do salvamento e o do reencontro, como especiais na vida e carreira de todos, já que a rotina não é conhecermos quem ajudamos, é apenas servir.
O Autor é 1o Ten da PMESP e, nessa ocorrência, era o copiloto da Aeronave.
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