Livro relata origem do Batalhão de Operações Aéreas do CBM/SC
02 de junho de 2013 7min de leitura
02 de junho de 2013 7min de leitura
Artigo publicado originalmente em 18JAN2013, e republicado para inserção do arquivo digital do livro “Arcanjo”, gentilmente cedido pelos seus autores, Cel BM RR Alvaro Maus e Ten Cel BM EDUPÉRCIO PRATTS, Comandante do Batalhão de Operações Aéreas.
Quem é socorrido ou acompanha a distância as operações do helicóptero Arcanjo 01, do Batalhão de Operações Aéreas do Corpo de Bombeiro Militar de Santa Catarina (CBM/SC), não imagina a mobilização e os esforços dispensados por Bombeiros Militares para que o sonho de salvar vidas pelo ar se tornasse realidade.
Muito menos que a tragédia de 2008 que assolou Vale do Itajaí tenha sido o “catalizador” de todo o processo de criação do serviço de salvamento e resgate aéreo próprio no CBMSC. Os detalhes minuciosos, entre projetos de pesquisa e notas de gabinete que resultaram na criação do BOA foram reunidos em um livro por dois protagonistas do processo de ativação do serviço aéreo próprio na corporação: Coronel BM Álvaro Maus e Tenente-Coronel BM Edupércio Pratts.
Em 114 páginas, Arcanjo: A história do BOA escrita sob a inspiração das asas de um sonho, apresenta as etapas que edificaram a estrutura que em pouco tempo veio a tornar-se uma das um elo importante da corporação para o atendimento emergencial, quando o ar é o único acesso possível ou a agilidade no tempo-resposta faz toda a diferença.
Dedicada aqueles que o exercício de suas atividades exigiu o sacrifício da própria vida (bombeiros mortos em serviço), a publicação é dividida em sete capítulos, complementados com anexos e fotos históricas.
Resumo da Obra
O início dos resgates e salvamentos aéreos deu-se na temporada de 1986/1987, quando ainda administrativamente subordinados à Polícia Militar do Estado, equipes de Bombeiros Militares foram ao Rio de Janeiro receber capacitação para, no retorno a Santa Catarina, formar a primeira tripulação de Bombeiros Militares catarinense.
Na época, o helicóptero Bell Jet Ranger III locado pelo Governo do Estado para 240 horas/voo na Operação Veraneio era multifuncional: existiam tripulações específicas para cada situação (Polícia, Bombeiro e Samu). Conforme a ocorrência, a equipe correspondente embarcava para a missão.
A experiência só foi repetida e aprimorada nas Operações Veraneio seguintes a partir de 1993, quando o serviço foi reativado – apesar dos resultados positivos e número elevado de vidas salvas – para angústia dos entusiastas do serviço aéreo público iniciado na Operação Veraneio 86/87.
Somente em 1997 uso de aeronaves foi ativado durante todo o ano. Diferente das experiências anteriores, houve incremento nos recursos ao ponto de o Estado operar posteriormente três aeronaves locadas por meio do Grupo de Radiopatrulhamento Aéreo (GRAER). Foi o período em que militares puderam ampliar seus conhecimentos por meio de um número maior de Salvamentos e Resgates.
A atividade desempenhada evoluiu ano a ano até a emancipação administrativa do Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina, em 2003, quando novamente os militares foram privados da prestação do serviço aéreo por meio da corporação recém-emancipada, então sem condições estruturais e financeiras para tanto.
Este é tido como um dos períodos mais difíceis para o grupo de Bombeiros Militares que “iniciou” a atividade na corporação, que apesar de capacitados e experientes no salvamento e resgate com o uso de aeronaves, não puderam empregar seus conhecimentos a serviço da vida por um longo período.
Mesmo sem a possibilidade de salvar vidas pelo ar, os envolvidos com o serviço aéreo da corporação continuaram seus estudos e treinamentos na esperança da organização de uma unidade operacional própria.
A espera foi interrompida, anos depois, quando em novembro de 2008 fortes chuvas atingiram Santa Catarina deixando um rastro de destruição e mortes jamais visto. À época, o Major Edupércio Pratts, que já figurava como referência em estudos e capacitação na área de resgate aéreo em nível nacional, foi indicado para auxiliar na coordenação das missões aéreas de aeronaves de todo o país que vieram para o Estado atuar no atendimento das vítimas da catástrofe. As missões foram acompanhadas pelo então Comandante-Geral do CBM/SC, Coronel BM Álvaro Maus.
Entre as muitas aeronaves que vieram ao Estado, estavam um helicóptero do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais e uma outra aeronave, da Polícia Militar do Paraná, pilotada por um Bombeiro Militar – o que tornou ainda mais evidente que a evolução do serviço Bombeiro Militar passava pela utilização de aeronaves. Foram inúmeras as ações dos tripulantes para melhor servir os companheiros de farda catarinenses, compartilhando da dificuldade da corporação de Santa Catarina em atender as vítimas sem contar com equipamento próprio.
“Foi o momento em que restou incontestável a necessidade de se viabilizar o serviço aéreo de salvamento e resgate no Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina. Apesar de termos no tornado referência na atividade, não tínhamos uma aeronave e sequer uma unidade especializada”, explica o Tenente-coronel BM Edupércio, que cerca de seis meses antes havia apresentado ao Comando-Geral uma pesquisa científica em que relacionava as justificativas e indicava as ações necessárias para a ativação do serviço aéreo no CBM/SC.
Acabados os trabalhos no Vale do Itajaí, o Comandante-Geral Coronel BM Maus, convencido de que o serviço aéreo do CBMSC era prioridade, iniciou com o apoio dos “pioneiros” da atividade na corporação, as tratativas para tentar viabilizar a retomada da locação de um helicóptero para atendimento de emergências junto ao Governo do Estado. Apesar da exposição de motivos, as tentativas não deram resultado.
Em um atitude arrojada, o Comando-Geral apertou as contas e destinou boa parte dos recursos da corporação na retomada do Serviço Aéreo por meio do aluguel de um helicóptero. Com ele, seria possível reativar a tripulação já qualificada e experiente – mesmo que somente durante os três meses da Operação Veraneio de 2009/2010, dado o limite de caixa à época para estender o aluguel da aeronave.
“Mesmo sem saber se seria possível manter o serviço, foi locada a aeronave e empregados os Bombeiros Militares que já possuíam o treinamento de tripulantes”, relembra hoje Tenente-Coronel BM Edupércio. Segundo ele, logo que a aeronave pousou no hangar improvisado junto ao Aeroporto Hercílio Luz, a semelhança das atividades fez com que o CBM/SC oferecesse apoio ao Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), compartilhando a aeronave, para que mais vidas pudessem ser salvas por meio do Suporte Avançado de Vida.
Terminados os três meses, quando o CBM/SC preparava-se para entregar a aeronave e novamente suspender o serviço aéreo, uma mobilização da mídia provocou comoção popular a favor da manutenção do uso da aeronave no salvamento de vidas. As grandes redes de comunicação do Estado passaram a veicular reportagens e até houve a criação, pela Ric Record, da Campanha “Fica Arcanjo” (Arcanjo foi o nome dado à aeronave do CBM/SC).
O empenho trouxe resultados. Semanas depois, incentivada pela parceria desenvolvida durante a temporada entre CBMSC/SAMU, a Secretaria de Estado de Saúde firmou convênio e repassou recursos suficientes para a prorrogação do serviço aéreo por cerca de oito meses – até a véspera da Operação Veraneio seguinte (2010/2011). Foi o começo de um longo relacionamento a favor da vida de catarinenses e turistas.
Quase que paralelamente, uma série de fatos “conspiraram” para que o Serviço Aéreo do CBM/SC ganhasse impulso suficiente para figurar como atividade permanente, ao ponto de em 02 de fevereiro de 2010, o Decreto Estadual Número 2966, deu origem ao tão sonhado Batalhão de Operações Aéreas (BOA).
A independência administrativa e o resultado efetivo da parceria entre CBM/SC e Secretaria de Estado da Saúde para a população tornou possível a rápida evolução estrutural a ponto de, em 2012, ter o Estado de Santa Catarina adquirido aeronave própria para o emprego em Salvamentos e Resgate pelo Corpo de Bombeiros Militar e SAMU SC.
Hoje, cerca de 1.800 pessoas já foram diretamente atendidas pelo Arcanjo 01, dentre as mais de 2.048 missões já atendidas, comprovando a importância da luta dos envolvidos e entusiastas do Serviço Aéreo dentro e fora do CBM/SC, relatada nas páginas do livro Arcanjo: A história do BOA escrita sob a inspiração das asas de um sonho.
A obra que conta a história do BOA foi apresentada oficialmente durante solenidade alusiva aos 3 anos de criação do Batalhão de Operações Aéreas (BOA), realizada em 1º de Fevereiro de 2013.
Fonte: CCS CBMSC/Soldado BM Felipe Rosa.
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