Policial cearense supera trauma de acidente aeronáutico com a ajuda de arte marcial
25 de dezembro de 2012 3min de leitura
25 de dezembro de 2012 3min de leitura
Tão difícil quanto escapar vivo de um acidente gravíssimo é voltar a ter uma vida normal depois disso. Nesse aspecto, um cearense pode servir de exemplo para muita gente.
O policial e professor de jiu-jítsu, Burton Deyves Gomes Araújo, era um dos ocupantes do helicóptero do Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer), pertencente à Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), que caiu há sete anos. Três policiais morreram. Dois sobreviveram, inclusive ele. Contudo, apenas Burton Deyves conseguiu retomar, aos poucos, sua rotina normalmente.
Caso rendeu apelido
O cearense ganhou até o apelido de Wolverine, entre os mais íntimos, pela sua capacidade assustadora de recuperação. Incrivelmente, ele retornou ao trabalho da mesma forma de antes, sendo tripulante de operações aéreas. Continua nos ares do Estado, defendendo a sociedade a bordo de um helicóptero. Mas a maior emoção mesmo veio quando vestiu mais uma vez o quimono, entrou na academia, e voltou a fazer o que mais ama: ensinar os princípios da arte suave.
Dificuldades
Não foi fácil. Depois de passar um bom tempo no hospital, imobilizado, teve que se submeter a três meses divididos entre uma cadeira de rodas e as muletas.
Deyves era carregado nos braços pelos próprios alunos escada acima para poder participar dos treinos na academia Arena Fight, no Conjunto Ceará – uma das 14 academias filiadas à Brasa Clube de Jiu-Jítsu, associação fundada por ele.
“Tive múltiplas fraturas. Foram 14 cirurgias para poder me recuperar. “Será que vou conseguir”, pensava comigo mesmo a todo instante”, diz Deyves, que atualmente é um referência do ensino dessa arte marcial no Estado, mantendo, inclusive, um projeto social para crianças carentes do Conjunto Ceará.
Lições do professor vão além da parte técnica
Com os ouvidos e os olhos bem atentos, os pupilos de Burton Deyves não se “desligam” em nenhum momento durante as explicações do mestre. Com auxílio de outro professor, ele demonstra os movimentos e explica a razão e o porquê da necessidade de utilizá-los em determinadas situações da luta.
“Ele representa um aprendizado em tudo, no esporte e na vida. É um exemplo”, comentou o aluno e também professor de jiu-jítsu, Alex Chaves.
“O mestre Deyves tem essa característica de unir. A Brasa é uma verdadeira família graças a isso”, revela o professor e também aluno João Mendes.
Dom de ensinar
A vocação de Burton Deyves para o ensinamento do jiu-jítsu já contribuiu para a formação de mais de 900 alunos. Porém, tão importante quanto a técnica da arte suave tem sido o lado humano que é transmitido a cada aula, ensinamento, gesto ou palavra amiga do mestre “sobrevivente”. “É assim que formamos nossos campeões”, ressalta.
O Acidente
Era a tarde do dia 29 de dezembro de 2005, quando o helicóptero “Águia 04” do Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer) retornava para a base depois de mais um vôo de patrulhamento sobre Fortaleza. Horas antes, a equipe havia participado de uma operação exitosa na caça a assaltantes. Por volta das 16h030, a aeronave, comandada pelo major PM Lindemberg Austregésilo de Andrade (piloto), e pela major BM Rosana Buson Pompeu (co-piloto), se aproximava do hangar quando, de repente, despencou de uma altura aproximada de 300 metros. A aeronave não explodiu. Porém, ficou completamente destroçada.
Os dois oficiais tiveram morte imediata, assim como o soldado PM Roberto Pacheco da Costa. Gravemente feridos ficaram outros dois tripulantes: o sargento PM Burton Deyves Gomes de Araújo e o soldado BM José Júnior Lopes da Silva. O primeiro conseguiu se recuperar das lesões. Já o soldado Júnior, do Corpo de Bombeiros Militar, não teve a mesma sorte e hoje vive em estado vegetativo em sua residência. Durante quase dois anos, as autoridades mantiveram total silêncio sobre as causas do fato, que só vieram a tona agora, diante do trabalho de jornalismo investigativo da equipe do Diário. O silêncio das autoridades inquietava os familiares das vítima, bem como, os seus colegas de farda.
Fonte: Diário do Nordeste, por Ilo Santiago Jr.
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