Conheça como é o trabalho do helicóptero Águia da BRPAe Ribeirão Preto
03 de dezembro de 2011 9min de leitura
03 de dezembro de 2011 9min de leitura
O toque da sirene no hangar do Águia, no aeroporto Leite Lopes, indica emergência. Significa que há um assalto em andamento em Ribeirão Preto ou algum carro suspeito, em alta velocidade, foge da polícia, rompendo barreiras e furando sinais. Então, tripulantes e mecânicos fazem correria organizada.
Rápidos, dois comandantes assumem seus postos no helicóptero. No banco traseiro, o chamado observador, com uma carabina Taurus ponto 30 e uma metralhadora ponto 40, ajeita-se no lado esquerdo da aeronave, ancorando o corpo em dois cintos de segurança máxima.
Enquanto o motor é acionado, o navegador, num detalhado mapa de 2m por 1,80m, na sala de controle, checa o local da ocorrência. Confere bairro, zona, rua ou avenida, número e rota. Munido de GPS e mapa individual, ele é o último membro da tripulação a subir a bordo. Tudo isso, no máximo, em três minutos. O Águia decola e, seguindo a orientação do navegador, inicia o deslocamento.
Depois de localizar o alvo – geralmente assaltantes em fuga – entra em ação o observador. Com meio corpo fora da aeronave, empunhando uma carabina, ele se transforma em peça fundamental na operação.
Com o Águia voando a 150 ou 100 metros do chão, o observador não desgruda o olho da “presa” e descreve a sua localização aos policiais em terra. Ao mesmo tempo, orienta o voo, passando comando aos pilotos para não perder a “presa” de vista. “Aeronave para cima ou para baixo, giros de cauda à esquerda ou a direita, curvas à esquerda ou à direita”, dita. E assim vai. Até o desfecho da missão, que em 98% dos casos, termina com a detenção dos suspeitos.
Mas o voo do Águia também salva vidas. Principalmente quando é acionado para transportar órgãos a pacientes à espera de transplantes. Ou em delicadas operações de resgate, em que pessoas ficam presas em rochedos, em árvores ou em dificuldades em rios ou lagos. O Águia também ajuda a apagar incêndios. Transporta 545 litros de água.
Quase 3 mil horas no ar em 5 anos
A Base de Radiopatrulha Aérea, em Ribeirão Preto, foi implantada em quatro de março de 2006. O motivo, segundo a Polícia Militar, foi a significativa incidência de crimes na região. A base ribeirão pretana é responsável por 93 municípios, espalhados numa área de 39 mil quilômetros quadrados.
As cidades que mais pedem ajuda são Sertãozinho, São Carlos e Araraquara. Até hoje o Águia voou 2,7 mil horas, um total de mais de cem dias no ar. Nesse tempo, participou de 6.438 missões, localizou 314 veículos (caminhão, carro e moto), apreendeu 164 armas, deteve 943 suspeitos e fez 27 operações de salvamento.
Apenas um suspeito foi baleado pelos tripulantes, em cinco anos de atividade. A explicação é que o helicóptero serve apenas comoplata forma de observação. O Águia raramente atira, para não ferir inocentes. A menos que se aponte uma arma para ele. O primeiro e único que tentou atirar no Águia até agora, teve a perna partida com um tiro de carabina ponto 30. Essa ocorrência foi há um mês, na estrada velha de Jardinópolis.
Cinco oficiais se revezam no comando do Águia, em jornadas de 12h de trabalho e 36h de descanso. O comandante da Base é o capitão Oscar Ferreira do Carmo, 42 anos, que fez o voo inaugural. Também estão desde o começo, o capitão Otávio Augusto de Lima Seminate, 37 anos e o capitão Ivan, 40.
O capitão Milton Gherardi chegou um ano depois e, o último a integrar o grupo foi o 1º tenente Joscilênio Cesário Garcia Fernandes. Para chegar a co-piloto, o oficial da PM estuda quatro anos, com aulas teóricas e práticas. E só depois de 500 horas de voo acumuladas é que ganha o status de comandante.
O helicóptero usado, hoje, na Base de Ribeirão é o mais antigo da frota. Trata-se do número um, colocado em serviço em 1984 (27 anos) e com mais de dez mil horas de voo. Mas isso é apenas uma coincidência, explica o capitão Seminate. “As aeronaves estão em permanente revezamento”.
É que um helicóptero fica em operação, numa das onze bases de operação da Polícia Militar, até completar 100 horas de voo. Depois disso, é levada para hangar da Helibrás ou do Grupamento de Radiopatrulha Aérea, em São Paulo, onde passa por revisão. Isso significa que, quando a aeronave que está em serviço em Ribeirão completar 100 horas de voo, será substituída por outra.
Hoje, a PM mantém Bases de Radiopatrulha Aérea em São Paulo, Campinas, São José dos Campos, Praia Grande, Bauru, São José do Rio Preto, Piracicaba, Sorocaba, Presidente Prudente e Araçatuba.
O Comandante da Base
Aos 42 anos de idade e aproximadas 1.800 horas de voo, o capitão Oscar Ferreira do Carmo é o comandanteda Base de Radiopatrulha Aérea de Ribeirão Preto. Ele está aqui desde a implantação do serviço. É paulistano criado em São José do Rio Pardo.
O capitão Oscar trabalhou vários anos em São Paulo e acostumou-se a voar entre os prédios da cidade grande. Pela função que exerce com os dois pés e duas mãos sempre ocupadas nos comandos do helicóptero– define-se como“motociclista” do ar. Em cinco anos de atividade na região, elegeu um salvamento em Santa Rita do Passa Quatro, como a mais complicada missão.
No dia 25 de abril deste ano, segunda-feira, ele se deslocou sozinho para retirar uma pessoa de um rochedo, a 60 quilômetros do chão. O local era extremamente difícil, próximo de uma cachoeira, com probabilidade de corrente de vento inesperada. Depois de sobrevoar e analisar o local, o capitão Oscar desceu dois tripulantes em cordas, no estilo rapel, acopladas no piso da aeronave, em técnica chamada Mac Guire. Os tripulantes se aproximaram do acidentado e usaram uma cadeirinha para salvá-lo.“Posso garantir que não foi fácil”, disse o capitão Oscar.
Salvamento em Altinópolis dura meia hora
Em oito de novembro do ano passado, o capitão Ivan, 40 anos de idade e 21 de PM, comandou uma complicada operação de salvamento em Altinópolis. Ao lado de uma das cachoeria do município, um homem, no dia anterior, tinha caído pelo barranco e ficara preso entre rochas cerca de 20 metros do chão. Foram meia hora de sobrevoose voos pairados atéa conclusão do resgate. A vítima foi retirada de cadeirinha pelo soldado Adrian, numa descida usando técnicade rapel.
Comandante de aeronave nasceu em Ribeirão Preto
O capitão Otávio Augusto de Lima Seminate, 37, um dos comandantes do Águia, é ribeirão-pretano dos Campos Elíseos. Filho de um bioquímico da USP-RP, o menino Otávio, que não perdia filmes da guerra do Vietnã, queria ser piloto de caça. Aos 13 anos,tentou ingressar na Escola Preparatória de Cadetes do Ar (Epcar), em Barbacena(MG).
Aos 15 anos, fez nova tentativa. Em seguida,quando se achava pronto para entrar na Epcar, passou a usar óculos. Sentiu que não teria mais chances. Estudioso, Seminate não perdeu a esperança. Entrou na Academia de Barro Branco, da Polícia Militar,em 1992. Surgiu a chance de pilotar helicópteros. Candidatou-se a uma das vagas, foi aprovado, preparou-se mais quatro anos até se tornar comandante.
O observador é o “olho” da equipe
A função de observador (Tripulante Operacional) no Águia é tida como nobre. O sucesso da missão depende muito de sua experiência. Toda a operação de busca se passa pelo lado esquerdo da aeronave, onde o observador fica posicionado, com as portas escancaradas. Ele praticamente se pendura no espaço em busca de melhor visão.
As armas que garantem a segurança do helicóptero são manipuladas por ele. Tanto a carabina Taurus ponto 30 como a metralhadora Famai ponto 40. É o observador quem relata a ação dos assaltantes em fuga, situando-os para as posições em terra. Também é ele quem crava os olhos na “presa”, sem perdê-la de vista por nada no mundo. Perder um bandido em fuga (e isso, às vezes acontece) é como fazer um gol contra. Para evitar gol contra, é o observador quem dá também as coordenadas aos pilotos na condução da aeronave no auge da perseguição.
O 2º sargento Romeiro, 39 anos, é considerado excelente observador. Está em Ribeirão desde a criação da equipe. Ele garante que um bom observador não nasce de repente. “É preciso acumular horas de voo, ficar sempre muito atento ao que está fazendo. Um observador é formado aos poucos”, diz.
Natural de Borá, na região de Assis, o sargento Romeiro já trabalhou em São Paulo e Bauru. Ele diz que numa cidade como São Paulo, de construções irregulares, muitos viadutos e pontes, é onde o observador ganha boa dose de experiência. O seu lema é um só: não perder a “presa” de vista e não deixá-la atravessar a aeronave.
Águia usa quatro equipamentos operacionais
O Águia, além de sua finalidade número um, que é a de acuar assaltantes e ladrões de carro em fuga, pode desempenhar outros tipos de missões, utilizando quatro equipamentos operacionais adequados para resgates e salvamentos.
Um deles é conhecido como Bambi Bucket. De origem canadense, é apropriado para combater incêndios, fazendo transporte de água.
O Cesto é usado para resgatar vítimas em locais de difícil acesso, como pessoas ilhadas em enchentes ou área de risco. Pode transportar 300 quilos.
O Puçá é utilizado no resgate de afogamento no mar e em rios. Leva duas pessoas: o salva-vidas e a vítima.
A Maca de Montanha (maca de ribanceira) é para a retirada de vítimas que precisam ser imobilizadas e estão em lugares onde o Águia não pode chegar.
Águia leva órgãos e garante transplantes
No dia 15 de dezembro do ano passado, o mau tempo impediu que um voo comercial da TAM, transportando um rim e um fígado, pousasse em São José do Rio Preto. O grande Airbus, procedente de São Paulo, mesmo dotado de equipamentos para aterrissar sob condições ruins, desviou a rota e desceu no aeroporto Leite Lopes, em Ribeirão Preto, pouco depois das 9h da manhã.
Em Rio Preto, pacientes que aguardavam os transplantes, sentiram-se frustrados com o atraso. A recomendação expressa era para que os órgãos, embalados com plástico, chegassem com a maior rapidez possível ao seu destino. A única saída era a utilização dos serviços do Águia. Foi criada uma operação especial.
O Águia da base de Rio Preto decolou simultaneamente com o de Ribeirão e passou a coordenar a condição do tempo na região. No Águia de Ribeirão, o capitão Otacílio Augusto de Lima Seminate e o 1º tenente Joscilênio Fernandes, voavam com dificuldade, sem perder o chão de vista.
Havia trechos com muita chuva e outros com visibilidade prejudicada pela formação de nuvens densas e baixas. A situação ficou mais dramática quando a aeronave sobrevoou Catanduva. Mas com determinação e cuidado, o Águia seguiu em frente e pousou no aeroporto de São José do Rio Preto, onde uma ambulância aguardava a chegada dos órgãos.
Uma viagem que dura meia hora tinha sido feita em 45 minutos. No aeroporto, entre cumprimentos pelo feito, a tripulação esperou o tempo melhorar. Quando o céu azulou, o Águia ganhou altura.
Fonte: Jornal A Cidade, Especial por SIDNEI QUARTIER.
Fotos: Divulgação, WEBER SIAN e F.L PITON.
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