Um resgate pela vida
07 de novembro de 2009 5min de leitura
Santa Catarina – O pronto atendimento de uma aeronave do Batalhão de Aviação da Polícia Militar (BAPM) foi, mais uma vez, decisivo para salvar uma vida.
Não tratava-se de outra de tantas remoções de vítimas de acidentes de trânsito para hospitais ou de pessoas em risco de vida socorridas com brevidade com o uso do helicóptero.
Desta vez, a aeronave Águia 01 da 2ª Companhia do BAPM, deixou Joinville na última quinta-feira e deslocou até Penha, no Litoral Norte, com a missão de encontrar uma jovem que se divertia no Parque Beto Carrero. Silvana Antunes, 16 anos, faz hemodiálise há dois anos e estava na fila de espera para doação de um rim. O surgimento de um doador – um garoto de 10 anos morto em um acidente de trânsito em São Francisco do Sul – exigiu uma corrida contra o relógio. O tempo entre a coleta do rim e o transplante não pode superar 72 horas. O doador teve morte na terça-feira, daí o motivo da urgência.
Após localizada no parque de diversões, imediatamente a jovem foi levada até o Águia 01. Em cerca de quinze minutos, já estava no Hospital, em Joinville, onde aconteceu a cirurgia.
A adolescente Silvana de Lima Antunes, 16 anos, realizou dois sonhos em questão de horas. Na mesma data em que esteve no Parque Beto Carrero, foi avisada que ganharia um rim novo. Portadora de insuficiência renal crônica, a moradora de Grão-Pará, no Sul do Estado, recupera-se na Fundação Pró-Rim, em Joinville, do transplante que terminou na madrugada de ontem
Mas para que a iniciativa de desapego de uma família que perdeu um filho em acidente de trânsito tivesse sucesso, uma corrente precisou ser formada. Corrente com velocidade de montanha russa. Isso porque, depois de assegurada a compatibilidade entre receptor e doador, o tempo é de 24 horas entre a coleta e o implante. E, na quarta-feira, Silvana e os colegas de escola tinham deixado Grão-Pará às 5h. Só retornariam no final do dia.
À tarde, já no parque, entretida com as brincadeiras, a menina não escutava o celular tocar. Nem ela, nem os colegas, nem a professora. Enquanto isso em Grão-Pará a movimentação era intensa. Uma ambulância emprestada pelo vizinho município de São Ludgero, levou a mãe da garota, que partiu para pegar a menina no parque. Para ganhar tempo, o veículo trafegava com sirene ligada pelas estradas.
Silvana não sabia que, desde as 14h, a secretária de saúde do município, Roselita Bussi, tentava avisá-la. Sem sucesso, a secretária correu para o colégio Miguel de Patta, onde Silvana cursa a sétima série. O diretor Dorvalino Dacorregio sentiu a urgência. Ele e duas funcionárias começam a telefonar para os quase 40 alunos que estavam na excursão.
– Foram mais de 100 ligações em meia hora. Usávamos três telefones. Na quarta vez, consegui dizer para Silvana: “Menina, o teu transplante vai acontecer” – lembra, emocionado, o diretor.
Depois de um ano e meio na fila de espera, Silvana se surpreendeu. Com a voz baixa, disse:
– Fala com a professora – passando o celular para Ana Vitória Margotti.
As duas foram orientadas a seguir para a frente do parque, onde um helicóptero iria aterrizar. Enquanto caminhava, Silvana falou pouco. Demonstrava nervosismo. Até que ela e a professora foram interceptadas pela ambulância do parque. Ao ser avisada da urgência, a direção do Beto Carrero World também se juntou na tentativa de localizar o grupo. O sistema de rádio dos seguranças foi acionado. Da ambulância, já na companhia do médico, Silvana foi levada até o heliponto.
Eram 15h30minutos quando o helicóptero Águia, da Polícia Militar de SC, levantou voo. Silvana chegou no hospital por volta das 16h. Foi submetida a exames e o transplante teve início às 22h. Varou a madrugada, até que na tarde de ontem, ao lado da mãe, a jovem foi orientada pelos médicos a dar os primeiros passos.
A solidariedade em torno de Silvana não é de agora. Em Grão-Pará, todos conhecem as dificuldades que sua família vive. Ela tem quatro irmãos, o mais velho com 20 anos e, o menor, com sete. Vindos do Paraná há oito
anos, o pais têm pouco estudo. Ele trabalha nas lavouras de fumo como diarista. A mãe, quase cega de um olho pela catarata, cuida dos filhos. A família não tem casa. No ano passado, a prefeitura bancou o aluguel social. Em 2009, o dono tem reclamado: os Antunes estão devendo.
– Conseguimos incluir Silvana em um programa do governo federal para pessoas com deficiência. Hoje, é com o salário mínimo que recebe que ajuda no sustento da família – conta a assistente social, Ângela Maria Bento Cândido.
Um morador da cidade doou um lote para a família. Como o casal não pode comprar o material de construção, vai ser feita uma rifa. A organização ficará por conta do serviço social do município. Foram os colegas da escola que ajudaram nas despesas da viagem até o Beto Carrero. As dificuldades trazidas pela doença também sensibilizam os moradores da cidade, que ajudam com alimentos e roupas. Assim como os profissionais da prefeitura, que procuram inserir Silvana nos programas sociais. Graças a isso, ela conseguia viajar na companhia do pai até Tubarão, onde fazia hemodiálise.
Ontem à tarde, o médico nefrologista da Fundação Pró-Rim, Paulo Cicogna, avaliou que a cirurgia foi um sucesso. Outra boa notícia veio da direção do Beto Carrero World: tão logo a garota esteja recuperada, haverá à disposição dela e da família, um passaporte para usufruir de todas as atrações do parque.
Fonte : Divulgação PMSC
Reportagem : Ângela Bastos / Diário Catarinense
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