“Para nós, o Brasil é um país-alvo”
10 de maio de 2011 4min de leitura
Diretor-executivo da Finmeccanica, um dos maiores grupos da Itália, espera obter receita de 10 bilhões no país em dez anos.
A Finmeccanica, um dos maiores grupos industriais da Itália e o terceiro maior europeu na área de defesa e segurança, está disposta a aproveitar os fortes investimentos do Brasil no setor nos próximos anos para ampliar sua presença no país. Em entrevista por telefone de Roma, o diretor-executivo e presidente do conselho de administração, Pier Francesco Guarguaglini, afirmou que o Brasil é um país-alvo e a expectativa é atingir receita de 10 bilhões no país em dez anos se conseguir os contratos que o grupo está mirando, como embarcações da Marinha, sistemas de proteção da costa e das fronteiras, segurança para as Olimpíadas e a Copa do Mundo, além do trem-bala. “Estamos prontos para ampliar nossa presença, investir em alta tecnologia e fazer parcerias com empresas brasileiras”, diz o executivo da empresa, que há duas semanas participou da feira de defesa e segurança LAAD 2011, no Rio.
Qual é a estratégia da Finmeccanica para o Brasil?
PIER FRANCESCO GUARGUAGLINI: Para nós, o Brasil é um país-alvo. Queremos estar aí e temos os equipamentos para atender às necessidades dos brasileiros. Mas nossa presença vai depender do sucesso que tivermos com os contratos que estamos buscando. Se conseguirmos os contratos, estamos prontos para ampliar nossa presença, investir em alta tecnologia e fazer parcerias com empresas brasileiras. Hoje, nossa estratégia é ampliar nossa presença no país. Mas nosso tamanho vai depender de nossa capacidade de conseguir os contratos.
Quais são as principais áreas de interesse?
GUARGUAGLINI: Temos um grande interesse pelo Brasil. Os principais projetos são na área de Segurança e Defesa. O primeiro-ministro Berlusconi e o presidente Lula assinaram um acordo de cooperação no ano passado, no qual há conversas em defesa e segurança. Nesta área, a Finmeccanica e a Fincantieri (estaleiro estatal italiano) estão em conversas com a Marinha brasileira sobre contratos para a construção de mais de dez embarcações. Os contratos seriam de algo como 6 bilhões, sendo que a parte da Finmeccanica – de fornecimento de sistemas – seria de 2,5 bilhões. Também temos interesse em sistema de proteção para a costa e as fronteiras. São duas diferentes possibilidades: o Amazônia azul (proteção da costa) e o Sisfrom (proteção das fronteiras). Pelo que sei, são contratos muito grandes, de bilhões de euros. Nossa companhia, a Selex Sistemi Integrati, é capaz de fornecer um sistema integrado, já que fazemos isso para outros países. Outra área de interesse é o sistema de segurança para os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo. Na área de Defesa, queremos – através de nossa companhia Alenia Aermacchi – fornecer os aviões de treinamento M346 para a Força Aérea Brasileira, que servem para treinamento dos profissionais que vão usar os caças. Para o Exército, podemos fornecer sistema de controle de batalha. Nós temos uma presença histórica no Brasil com nossa empresa de helicópteros, a AgustaWestland, e somos líderes no setor civil. Queremos aumentar nossa presença nos setores de segurança pública e militar. Na área civil, nosso interesse está no projeto do trem-bala. Temos interesse também na área de satélites, onde já temos presença importante com a Telespazio do Brasil.
Qual é o potencial do mercado brasileiro?
GUARGUAGLINI: Antes de tudo, o Brasil está crescendo muito rapidamente. E muitas necessidades do país nós, da Finmeccanica, somos capazes de atender. Se conseguirmos os contratos que estamos buscando, nossa receita no Brasil em dez anos será de algo em torno de 10 bilhões.
Qual é o volume de investimentos previsto para o Brasil?
GUARGUAGLINI: O montante de investimento nos próximos anos vai depender de qual será nossa presença. Se conseguirmos os contratos, vamos ampliar nossa presença.
O leilão do trem-bala foi novamente adiado. A Finmeccanica tem interesse no projeto?
GUARGUAGLINI: Nosso interesse é principalmente pelo sistema de transporte e o sistema de sinalização, trabalho feito pela Ansaldo STS. Quando estive no Brasil, já tive conversas com o governo sobre o projeto, mas então houve o adiamento. Até agora, não está claro qual será o cronograma nem a necessidade financeira do projeto. O custo financeiro parece muito elevado para ser financiado apenas pelos parceiros privados. Não parece possível de ser feito sem apoio do governo. Mas acredito que, quando tivermos as informações completas, continuaremos as conversas para participar da disputa.
Estados como Rio de Janeiro e São Paulo vão renovar suas frotas de trens de passageiros. Há interesse da Finmeccanica?
GUARGUAGLINI: Não tenho conhecimento desses projetos, mas participaremos destas concorrências. Nossos trens estão em todo o mundo, então temos interesse. Fornecemos trens para países com climas tão diferentes quanto Marrocos e Noruega. Temos tecnologia para isso.
Nos últimos anos, a Finmeccanica ampliou de 20% para 80% a participação de outros mercados em sua receita, fora a Itália. Quão importante foi essa internacionalização?
GUARGUAGLINI: A necessidade vem do fato de que a Itália tem um orçamento limitado. Se a Finmeccanica quer crescer, tem que ampliar a presença fora da Itália. Por isso o Brasil é tão importante. Hoje, nossos maiores mercados são Itália, Reino Unido e Estados Unidos. Mas nosso interesse é ampliar a presença na Índia, no Brasil, nos países do Golfo, entre algumas possibilidades.
O governo italiano tem fatia de 30% no capital da Finmeccanica. Qual é a influência?
GUARGUAGLINI: O governo nomeia o presidente do conselho de administração e o diretor-executivo, além de integrantes do conselho. No dia a dia, no entanto, os executivos são completamente independentes.
Fonte: O GLOBO, por Lucianne Carneiro.
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