Helicópteros da PMERJ ganham novo papel durante a pandemia de Covid-19
23 de fevereiro de 2021 5min de leitura
23 de fevereiro de 2021 5min de leitura
Rio de Janeiro – Usados normalmente em operações policiais, principalmente em comunidades, os helicópteros da Polícia Militar do Rio têm sido empregados, nos últimos meses, para transportar insumos médicos para unidades hospitalares, pacientes infectados com a Covid-19 e, também, as vacinas contra a doença. No último mês, a aeronave Huey II — também conhecida como “caveirão do ar” levou para o interior do estado milhares de vacinas da CoronaVac. Atualmente, o Grupamento Aeromóvel (GAM) possui sete helicópteros.
“Atenção, preparar para voo. Tudo sob controle? Torre, permissão para decolar”. A comunicação é feita pela major Raquel Ventura Rodrigues, de 37 anos, primeira mulher a integrar o quadro de pilotos do GAM, ao centro de comando. Minutos depois, o “caveirão do ar” levantaria voo de Niterói, em direção ao Rio. Acompanhada do também piloto, o major Fábio dos Santos Gonçalves da Silva, de 38 anos, e três PMs, a equipe do GLOBO seguiu a bordo do helicóptero para acompanhar um dia de sobrevoo.
Antes mesmo de decolar, é preciso seguir uma série de protocolos. Todos os equipamentos de segurança dos policiais — e a blindagem da aeronave — são checados. O procedimento é bem rápido. É que todos os helicópteros já ficam prontos e à espera de algum tipo de solicitação de outros comandos. Atualmente, o GAM conta com 188 PMs, entre oficiais e praças. Desse total, 25 são pilotos. O batalhão especializado conta com a sua própria formação de militares que comandarão os equipamentos aéreos.
— Estamos integrados ao COE (Comando de Operações Especiais) e a outras unidades, quando se refere a missões específicas de incursão. Na parte operacional, somos responsáveis pelo patrulhamento aéreo de todo o estado — conta o coronel Rogério Cosendey Perlingeiro, há 28 anos na corporação e atual comandante do GAM.
Segundo Cosendey, uma aeronave consegue cobrir uma área de até 10 viaturas:
— Temos uma visão privilegiada que ajuda a fornecer informação para quem está em terra.
No próximo dia 21 de março, o GAM vai completar 19 anos. Segundo dados do batalhão, todas as aeronaves, somadas, têm quase 20 mil horas de voo. O comandante do Grupamento Aeromóvel lembra que os helicópteros “também são usados para o transporte da tropa, resgates (principalmente de PMs baleados), salvamento de afogamentos, combate a incêndios em apoio ao Corpo de Bombeiros e transporte hospitalar”.
— As aeronaves têm multimissão. Para se ter ideia, no ano passado fizemos 24 transportes de pessoas infectadas com a Covid-19. Esses pacientes estavam em cidades como Campos dos Goytacazes, Cabo Frio, Paquetá e São José do Vale do Rio Preto. Elas foram encaminhadas para hospitais de referência em combate à doença — conta Cosendey.
Na quinta-feira em que a equipe de O GLOBO esteve no hangar do GAM, o “caveirão voador” iria transportar um paciente do interior do estado, que está infectado por Covid. No entanto, a pessoa piorou seu quadro clínico e não pôde ser removida da unidade de saúde onde estava.
De acordo com a PM, a manutenção primária das aeronaves – como abastecimento e troca de óleo – é feita na base do GAM, no Centro de Niterói. Já outros tipos de consertos, são necessários que os equipamentos sejam levados para as empresas licitadas para os reparos. Segundo a instituição, todos os helicópteros tem contratos.
Para o comandante do batalhão especializado, “o momento que o mundo está vivendo é histórico”, e a corporação está fazendo parte dessa história.
— Nesses anos todos de corporação, (as enchentes e deslizamentos em) Friburgo foi o mais difícil. Mas, ao mesmo tempo, gratificante. Ficamos lá por semanas e conseguimos salvar dezenas de vidas.
Primeira mulher a pilotar um blindado aéreo da PM
Antes de voar, a major Raquel Ventura Rodrigues olha no espelho, retoca o batom, amarra o cabelo e segue para o hangar. Lá, ela repassa todas as instruções de voo. Mãe de uma menininha de cinco anos, e na PM desde 2004, a oficial é piloto desde 2009. Rachel é a primeira mulher a entrar no GAM, em 2014, e uma das pouquíssimas que tem habilidade para comandar o blindado da corporação.
Durante esse tempo, Raquel lembra que já passou por momentos difíceis. Mas ela afirma que é gratificante.
— A primeira vez que pilotei o Sapão foi durante uma operação na Cidade de Deus. Foi um misto de sentimentos e sensações. Estava realizando o meu sonho — diz Raquel.
Questionada sobre qual foi o momento mais difícil de sua carreira, a piloto não hesita:
— Quando o Fênix sofreu o acidente (em 2016), na Cidade de Deus. Estávamos fazendo um monitoramento e recebemos a informação de que uma das nossas aeronaves tinha caído. Quando chegamos lá, infelizmente, havíamos pedido os nossos colegas — conta.
A queda relatada por Raquel aconteceu no dia 19 de novembro de 2016 entre a Avenida Ayrton Senna e a Linha Amarela. Dentro da aeronave estavam o major Rogério Melo Costa, o capitão William de Freitas Short, o subtenente Camilo Barbosa Carvalho e o sargento Rogério Félix Rainha. Dois anos depois, a Aeronáutica concluiu que o motivo do acidente foi uma “perda de efetividade do motor de cauda”. A aeronave sofreu uma quinada repentina, o que levou o piloto a perder o controle do helicóptero.
— Todos os dias que eu acordo para trabalhar, não sei o que vai acontecer. Mas, é muito gratificante quando temos a possibilidade de salvar o próximo — conclui Raquel.
A operação em números
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