Como funciona o imageador térmico de uma aeronave policial?
21 de junho de 2020 6min de leitura
21 de junho de 2020 6min de leitura
Rio Grande do Sul – Começa a anoitecer e a Brigada Militar (BM) está em operação em becos escuros, em Porto Alegre. Nada fora da rotina de policiamento. O diferencial está no alto, entre 150 e 300 metros de altura. No helicóptero, um equipamento similar a uma câmera de segurança vê o que policiais militares em terra ou no ar não podem enxergar: detalhes capazes de revelar se uma pessoa está com um celular ou com uma arma na mão, por exemplo.
O imageador térmico tem sido usado como apoio a ações terrestres da BM. Foram 95 operações apenas em 2020. Ele capta imagens em alta resolução, podendo identificar rostos, corpos em movimento, placas de veículos e objetos. Se focar em uma pessoa com a mão no bolso, mostra se há algo sendo escondido.
Como tem sensor de calor, o equipamento, que foi adquirido durante a Copa das Confederações, em 2013, ajuda a detectar pessoas em fuga ou escondidas. Além da utilização em operações policiais planejadas, o equipamento é alternativa para ocorrências de vulto, como assaltos a bancos no Interior e fuga de criminosos com veículos roubados. E também em ocorrências dentro da Capital, atuando como se fosse uma viatura, só que bem mais veloz: a aeronave percorre o trajeto da Zona Norte à Zona Sul com tempo entre cinco e oito minutos.
Em caso de perseguição de carro, o equipamento tem capacidade para identificar, entre vários estacionados, qual deles estava trafegando minutos antes, a partir do calor emitido pelo pneus.
O imageador grava e pode transmitir imagens em tempo real. Na Capital, o material captado nas ações chega direto a um receptor instalado junto ao comando da BM. Se necessário, pode distribuir imagens para outras unidades da corporação.
Além do uso em ações rotineiras de policiamento, o equipamento também é aliado para trabalhos com multidões, como em dias de jogos da dupla Gre-Nal ou durante manifestações. Em protestos pacíficos, o equipamento ajuda a identificar vândalos infiltrados, como pessoas que estejam depredando bens. Elas têm a roupa e a imagem identificadas e as informações são repassadas aos policiais que estão atuando em terra.
— A utilização do imageador térmico qualifica e dá eficiência para a ação policial, pois o equipamento consiste num sistema de captura e transmissão de imagens feitas por uma câmera com sensor infravermelho a bordo do helicóptero. Tem capacidade de visualizar pessoas a uma distância de até 10 quilômetros. As imagens da câmera e as informações dos mapas também podem ainda ser transmitidas para o solo em tempo real, por meio de um sistema com alcance superior a 50 quilômetros — destaca o subcomandante-geral da BM, coronel Vanius Cesar Santarosa.
O oficial complementa informando que o equipamento permite que as ações sejam programadas:
— A operação pode ser planejada e acompanhada de longas distâncias, sem a necessidade de estar presente no local, qualidade esta que permite a otimização dos recursos além de dar mais assertividade nas decisões a serem tomadas pelo comando da operação. O sistema é utilizado pela Brigada Militar como um importante vetor de operacionalidade e eficiência, fazendo diminuir o tempo resposta da força policial.
Na noite da segunda-feira ,O helicóptero Esquilo HB 350B, equipado com o imageador, sobrevoou o bairro Bom Jesus. Sem deparar com ações criminosas, retornou à sede do Batalhão de Aviação (BAv) da BM, que fica no aeroporto Salgado Filho.
Mais tarde, partiu da base o modelo Koala AW119 Kx, equipado com o farol de busca. Esse tipo de voo costuma chamar a atenção da população por causa da projeção luminosa que emite sobre possíveis alvos ou em locais em que é preciso fazer buscas. A BM avalia que o trabalho com o farol de busca durante uma ocorrência com fuga de criminosos, por exemplo, faz com que o perímetro de perseguição se reduza.
— O criminoso sabe que vamos detectar o movimento. A tendência é parar ou se movimentar o mínimo possível. Atua como um fator psicológico — explica o capitão João Marcelo dos Santos Gonçalves, da seção de Comunicação Social do batalhão.
Na segunda-feira, a aeronave deu apoio a uma ação do 1º Batalhão de Choque no bairro Bom Jesus. Assim que uma viatura é localizada, o farol é direcionado para dar apoio. No helicóptero, o soldado João Dornelles Teles, operador aerotático, está preso por uma corda de segurança, com a porta aberta e armado com uma carabina calibre 556. Observa e relata ao piloto militar major Ademar Reis Vargas e ao piloto civil Carlos Eduardo Bonilla detalhes da abordagem terrestre.
O criminoso sabe que vamos detectar o movimento. A tendência é parar ou se movimentar o mínimo possível. Atua como um fator psicológico.
CAPITÃO JOÃO MARCELO DOS SANTOS GONÇALVES
Seção de Comunicação Social do Batalhão de Aviação
— Alguém correndo nas proximidades? — questiona um dos pilotos.
— Não. Tudo normal — analisa o soldado Teles.
Com 17 anos de BM, Teles está desde 2012 no BAv. Também é ele um dos que operam o imageador em voos.
— Trabalhei no solo como os demais colegas e quando estou lá em cima, através de uma visão mais ampla, vejo os riscos, a vulnerabilidade do terreno, muitas vezes desconhecidos, e tento passar informações úteis para auxiliar os colegas nas situações adversas — diz o soldado sobre o potencial de auxílio de quem está com visão aérea.
O serviço do batalhão, que é comandado pelo major Leandro Brandão dos Santos, funciona 24 horas. As equipes fazem plantão de 12 horas. São treinadas para resgates em água ou terra, para remoção de feridos e para o transporte de órgãos humanos destinados a salvar vidas. Este ano, já houve 16 viagens para transporte de órgãos. Se a campainha instalada na sala do plantão ecoar três vezes, é o aviso de que tem ocorrência em andamento. Uma das aeronaves está sempre preparada para emergências carregada com maca, cordas, capacetes e luvas.
Sobre o Batalhão de Aviação da Brigada Militar
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