CAvPM/SP: A difícil escolha na hora do resgate
18 de fevereiro de 2020 3min de leitura
Um idoso, uma criança, uma gestante ou um doente? Como escolher quem mais precisa de ajuda em uma enchente? É com um controle emocional e treinamento técnico que Natália Giovanini, primeiro-tenente do Comando de Aviação da Polícia Militar de São Paulo, conseguiu resgatar, em um procedimento considerado “cirúrgico”, a garota Ana Clara, de 4 anos, que ficou presa na Ponte da Freguesia do Ó, na zona norte da capital paulista, por causa dos alagamentos que aconteceram na segunda-feira desta semana.
“Foi um dia bem difícil na cidade, com vários pontos de alagamento. E quem conseguiu chegar ao comando já foi assumindo as aeronaves”, disse ela. Moradora do bairro de Santana, Natália optou por fazer o caminho até o Campo de Marte de bicicleta. Por causa do contato com a água da chuva, ela recebeu a orientação para tomar um antibiótico. Ao chegar ao aeroporto, encontrou o hangar alagado. “Então, algumas empresas ofereceram um espaço para que nossas aeronaves fizessem os pousos para reabastecer e continuar o trabalho de resgate”, contou.
“Recebi um chamado referente a uma menina que estava ilhada na Ponte da Freguesia do Ó e estava precisando ir para o Hospital Samaritano fazer hemodiálise. Ela não conseguiria chegar naquele dia”, lembra a tenente, que pilota o helicóptero Águia da PM há seis anos.
A hemodiálise é um procedimento feito com uma máquina que limpa e filtra o sangue do paciente, ou seja, faz parte do trabalho que o rim doente não pode fazer. É indicado para pessoas com doença renal grave.
“Com ajuda de um agente dos bombeiros conseguimos pousar na ponte e colocamos a garotinha na aeronave. Como piloto, tento descontrair, né? Ana Clara ficou bem sorridente. Ela e a mãe, acredito, ficaram aliviadas quando decolamos”, descreveu a tenente Natália.
De acordo com registro do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o volume de chuvas que atingiu a capital paulista nos primeiros 11 dias de fevereiro em São Paulo já é o maior desde 1999. Foram 342,7 mm de chuva, superando em 37% o esperado para o mês inteiro.
A PM trabalhou com três aeronaves naquele dia e sete pessoas foram resgatadas, quatro com a ajuda de um cesto anexado ao helicóptero. “Tem de observar a segurança. Não adianta colocar todo mundo e a aeronave não conseguir subir”, explica a tenente Natália, que participou de outros casos, como o de Brumadinho, em Minas.
Reforço
Assim como ela, Missael da Silva, terceiro-sargento do 4.º Batalhão da Polícia Militar Metropolitana (BPMM), atuou como um reforço da equipe de bombeiros de São Paulo. No período da tarde, o sargento foi abordado por uma senhora na Rua 12 de Outubro, próximo da Avenida Marquês de São Vicente. A irmã dela, o cunhado e a filha de apenas 2 anos estavam no andar de cima de um sobrado. A cozinha, com todos os alimentos, foi tomada pelas águas e a criança estava sem comer há horas.
“Essa senhora disse que ligou para os bombeiros, pediu socorro, mas disseram que a prioridade era para quem estava com risco de vida. Não tinha mais viatura. Eu tenho uma filha de 5 anos e um bebê de 7 meses. E aquilo me tocou muito. Pensei em entrar na água, ir nadando e pegar a menina pelo ombro”, relatou o sargento. Nesse momento, Missael se deparou com uma viatura do Corpo de Bombeiros, que ofereceu um bote para chegar até a casa da família. Mais cedo, o sargento e a sua equipe participaram do salvamento de 30 pessoas que ficaram ilhadas em um ônibus em uma das pistas da Marginal do Tietê.
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