A sobrevivência de uma tripulação em uma ocorrência de piloto incapacitado – Parte 5
26 de abril de 2019 3min de leitura
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Trabalhando o problema
De acordo com Baldwin, não há dúvida de que a tecnologia de piloto automático a bordo da aeronave foi vital para o sucesso do incidente. Ele enfatizou, no entanto, que outro fator era igualmente importante – o uso efetivo de CRM por parte de Abshire e Coupel.
Quando Coupel percebeu a gravidade do problema, ela entrou em pânico. Mas assim que Abshire fez o pedido de socorro, eles voltaram a ter foco e calma, praticando o que Baldwin identificou como os princípios fundamentais do CRM: comunicação, trabalho em equipe e atenção aos detalhes.
“Eles não teriam achado uma solução se não tivessem trabalhado juntos para resolver o problema”, disse Baldwin. “Se eles não tivessem conseguido fazer isso, não sei qual teria sido o resultado.”
Abshire não tem dúvidas sobre o assunto. “Se não fosse pela CRM”, disse ele, “naquele dia, esse incidente não teria um final feliz. Nós iríamos morrer naquele dia. Se você não tem essa capacidade de se comunicar com o seu parceiro, se você não tem esse senso de confiança entre você e seu parceiro, em um dia como esse, você simplesmente vai estar sentado esperando pelo inevitável.”
Esse relacionamento profissional e amizade pessoal entraram em cena semanas após o incidente também. Imediatamente após o evento, a equipe de apoio psicológico da Air Evac contatou Abshire e Coupel para oferecer sua assistência. Mas, como Coupel recordou, eles ainda estavam com a adrenalina alta na época. Afinal, eles tinham sobrevivido – por que precisariam de ajuda?
Eles perceberam a verdadeira gravidade do incidente que eles tinham passado semanas mais tarde, quando, durante uma nova sessão de esclarecimento, os gestores seniores da Air Evac colocaram a gravação das chamadas de rádio de Coupel.
“Você pode sentir o puro medo em minha voz”, disse ela. “Você pode não ser capaz de entender qualquer coisa que estava falando, mas você sabe que estou com medo.”
Depois disso, Coupel percebeu que ela andava irritada e hipersensível ao ambiente. “Toda vez que alguém reclamou qualquer coisa, eu só queria reclamar e dizer, ‘Sim, eu quase morri, então talvez você possa esperar até a sua sopa esfriar antes de queimar sua boca. Eram coisas aleatórias como essas que me irritavam”.
Quando Coupel se abriu com Abshire como ela estava se sentindo, ele disse que sentia o mesmo. Então, eles procuraram a ajuda do grupo de equipe de apoio psicológico da Air Evac, foi quando a psicóloga Tania Glenn os ajudou a processar sua resposta de estresse atrasada. “Eu fiquei contente pelo fato de que nós dois descobrimos que precisávamos cuidar de nós antes de voltarmos a vida normal”, disse Coupel.
Abshire refletiu: “Acho que todo o lado psicológico no trabalho aeromédico é algo que as pessoas sempre ignoram, porque somos todos invulneráveis e estamos acostumados a: ‘Levante sua cabeça, você vai ver desgraças, você vai ter dias ruins, mas as pessoas ainda estão morrendo e você tem que ir ajudá-las”.
“Então não há tempo para sentar e lamentar sobre o nosso dia ruim, porque temos que continuar”, continuou ele. “E chegou a um ponto em que tivemos que dar um passo para trás e perceber, não podemos continuar, não desse jeito.”
Desde então, Abshire e Coupel juntaram-se à equipe de apoio psicológico da Air Evac para oferecer ajuda a outros tripulantes que lidam com incidentes traumáticos. Em outubro, eles também compartilharam sua história na Conferência de Transporte Médico Aéreo de 2018 (AMTC) em Phoenix, Arizona. Abshire disse que espera que um evento como o que ele experimentou nunca aconteça novamente. Mas se isso acontecer, ele espera que as lições aprendidas dêem a outra equipe essa chance de sobreviver.
“Talvez eles tenham coragem para não ficarem sentados e morrendo de medo”, disse ele. “Espero que pelo menos que tenham coragem para tomar uma atitude e saber que algo pode ser feito.”
Tradução livre do artigo “A fighting chance: Surviving pilot incapacitation”, de Elan Head
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