BAPM/SC: os bastidores da perseguição da PM aos assaltantes de Mirim Doce
13 de março de 2019 4min de leitura
13 de março de 2019 4min de leitura
Santa Catarina – Helicópteros, rapel, uniforme especial, policiais com a barba por fazer. A perseguição aos criminosos que assaltaram agências do Banco do Brasil e de uma cooperativa de crédito em Mirim Doce, no Alto Vale, foi a maior operação de mata já feita por policiais militares em Santa Catarina.
Durante seis dias, a equipe do Comando de Operações de Busca, Resgate e Assalto (Cobra) seguiu os vestígios da quadrilha em uma área de 10 quilômetros quadrados, de vegetação fechada. Encurralados, os dois últimos suspeitos do grupo morreram em confronto.
O assalto ocorreu na sexta-feira (01/03), véspera de Carnaval. Encapuzados e fortemente armados, os assaltantes usaram reféns para evitar troca de tiros com a polícia. Incendiaram o veículo e conseguiram seguir em outro carro, numa tentativa de confundir os policiais.
O secretário de Estado de Segurança Pública, coronel Araújo Gomes, diz que a intenção dos criminosos era embrenhar-se na mata à espera de um resgate.
Os relatos mostraram que a estratégia era queimar os carros, entrar no mato, esperar a polícia cessar as buscas, o que eles acreditaram que aconteceria em algumas horas, e aguardar outros (criminosos) virem resgatá-los. O Cobra viu o rastro, e os obrigou a seguirem fugindo.
A PM combinou duas táticas diferentes na busca pelos suspeitos. Policiais locais cercaram a mata, para evitar que os bandidos conseguissem fugir, enquanto a equipe do Cobra fazia as buscas em meio à densa vegetação, que fica às margens da BR-470, próximo à cidade de Otacílio Costa.
Policiais identificaram rastros dos assaltantes
Deu certo: quatro assaltantes que tentaram sair da mata, ao longo de seis dias, foram interceptados pelo cerco da PM e presos. Na mata, os policiais especializados do Cobra seguiam os rastros dos bandidos e localizaram uma touca ninja usada no assalto, coleta à prova de balas, um cabo de carregador de celular e um pedaço de calçado. Vestígios que ajudaram a indicar a direção para onde os suspeitos haviam seguido.
Toda a busca ocorreu sem o auxílio de cães farejadores, para que os assaltantes não percebessem a aproximação da polícia. Para se locomover nos pontos de mais difícil acesso, a equipe do Cobra contou com o apoio do helicóptero Águia – chegaram a ser empregados dois helicópteros nas buscas, de uma só vez.
Os policiais passaram todo o Carnaval e os dias seguintes caminhando em busca dos suspeitos, e traçando estratégias em parceria com grupos de inteligência da PM.
Os que foram tentando fugir foram sendo presos. Os últimos dois que ficaram, chegou um momento em que conseguimos encontrar. Eles dispararam com um fuzil, nós revidamos. Com eles estava a maior parte do dinheiro e também um revólver calibre 38 _ diz o capitão Cristofer Tiemann, comandante do Cobra.
Novo Cangaço
Assaltos como os que ocorreram em Mirim Doce são chamados pela polícia de “novo cangaço”. É uma modalidade criminosa em que assaltantes escolhem cidades pequenas, que em geral têm menos policiamento e baixos índices de criminalidade, para praticar crimes.
_ São crimes com grande violência e alto poder de fogo, para que a polícia local não tenha reação. Usam civis como escudo, são de extrema covardia, frios e perigosos _ afirma o capitão.
Ocorrências de alto risco são rotina para o Cobra, grupo de elite do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope). Os policiais que fazem parte do grupo têm treinamento para atuar em ocorrências de altíssimo risco, como detonação de explosivos, resgate de reféns e situações que envolvam organizações criminosas. ]
Para resguardar as estratégias, a polícia não divulga quantos agentes do Cobra estavam empenhados na busca na mata. Ao todo, 150 policiais militares participaram da operação, incluindo o cerco.
Recado aos criminosos
O secretário de Segurança, coronel Araújo Gomes, diz que ações como essa ajudam a manter Santa Catarina fora do mapa do “novo cangaço” e reduziram as ocorrências de explosões de caixas eletrônicos.
– Além da aplicação da lei, queremos passar recado aos criminosos de que esse tipo de crime terá atenção especial das forças de segurança pública. Eles devem saber que estão correndo um grande risco, e que a polícia estará muito empenhada em seguir até o fim na captura – afirma coronel Araújo Gomes.
O secretário ressalta, ainda, que a mobilização mostra a capacidade de resposta da polícia em SC:
_ A polícia é muito maior do que as pessoas veem nas pequenas cidades no dia a dia. Quando a situação sai do normal há toda uma corporação na retaguarda (para atender a esse tipo de ocorrência).
As investigações continuam, agora sob responsabilidade da Polícia Civil. A intenção é descobrir eventuais ramificações do grupo. As apurações preliminares indicam que um dos assaltantes era do Alto Vale, e os demais do Litoral, especialmente de Camboriú.
Os policiais acreditam que as armas que usavam, como o fuzil, tenham sido cedidas ou alugadas por uma facção criminosa.
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