Tecnologia, Equipamentos e Tripulação
07 de janeiro de 2019 8min de leitura
Sub Ten PMESP Eduardo de Moraes Gomes
Chefe de Equipe Operacional / Membro da Coordenação e Instrutor no Curso de Tripulante Operacional, Enfermeiro de Bordo e Médicos.
O Grupamento de Radiopatrulha Aérea “João Negrão” (GRPAe) foi criado em 1984, no entanto, o apoio ao Corpo de Bombeiros para realizar o patrulhamento na orla marítima viria a ser incluído alguns anos à frente. Não distante de sua criação, houve a necessidade de seu emprego no litoral paulista devido ao grande número de óbitos por afogamento que estava ocorrendo na década de 80. O Corpo de Bombeiros, que na época atendia como 3º GBS, hoje GBMAR, solicitou apoio ao GRPAe que efetivamente começou a apoiar com o helicóptero nos finais de semana a partir da Operação Verão de 88/89.
O apoio realizado ao 3º GBS no patrulhamento preventivo e no salvamento aquático na orla marítima obteve resultados extremamente positivos nesta ação que culminou em uma redução drástica de 500 para 222 óbitos. Percebendo a eficácia deste apoio, desde 1989 a Operação Verão foi incorporada de fato às missões do GRPAe. Na Operação Verão de 2017/2018 foram contabilizados 37 óbitos, redução ainda maior, pois além do emprego da aeronave, foram agregados a esta modalidade de prevenção outros métodos e equipamentos, tais como: moto aquática, salva surf, bote inflável, guarda vidas temporários, fator que possibilitou a marca de 1.912 salvamentos realizados.
Além do salvamento aquático existe um equipamento que é utilizado em combate a incêndio, seja em edificações ou florestas: a caçamba Bambi Bucket. Efetivamente esse equipamento é extremamente empregado até os dias de hoje no apoio ao Corpo de Bombeiros, haja vista que foram realizadas 5.235 missões e 356,62 horas voadas. Há uma grande quantidade de missões e horas sobrevoadas em meio líquido (rios, lagos, represa, mares, entre outros), conforme demonstrado nos gráficos.
Porém, até aquele momento, não havia equipamento específico para a tripulação. “Segundo dados do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), no período de 2008 a 2017 houve uma redução em termos de acidentes com helicópteros, sendo 17 (dezessete) acidentes ocorridos no ano de 2008 e 11 (onze) acidentes ocorridos em 2017, mas o maior número de ocorrências dentro desse período foi no ano de 2011, quando foram contabilizados 31 (trinta e um) acidentes. Somente na aeronave AS50 podemos relatar 18,45% acidentes e 18,52% incidentes graves. No que tange à Operação Policial, ou seja, missão de Segurança Pública com helicóptero de modelos diversos, 9,22% são classificados como acidente e 14,81% como incidentes graves. Além disso, cabe ressaltar que independente do modelo de aeronave, o Estado de São Paulo foi a região que mais possui mais ocorrências, sendo registrado um total de 28,6%. Dentre 69 possíveis fatores contribuintes, os mais frequentes neste período foram: JULGAMENTO DE PILOTAGEM, PLANEJAMENTO DE VOO e SUPERVISÃO GERENCIAL, que representam 24% do total de fatores contribuintes identificados em investigações de acidentes aeronáuticos.” SANTOS, L. C. B.; ALMEIDA, C. A.; FARIAS, J. L.; et al. Helicópteros – Sumário Estatístico 2008-2017. Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA). Brasília. 2018.
Fica notório a necessidade de aplicar métodos para mitigação dos riscos que são inerentes a este tipo de missão, quando somamos o período que executamos missões de salvamento e de combate a incêndios, juntamente com a estatística realizada pelo CENIPA. Vislumbramos a necessidade de cada vez adequarmos mais os nossos equipamentos. A Divisão de Segurança de Aviação do GRPAe, percebendo esta problemática, juntamente com outras Divisões, iniciou um movimento para aquisição de Equipamento de Proteção Individual (EPI), tais como os coletes salva-vidas, os quais são de extrema importância para a sustentação da vida em meio líquido.
Primeira aquisição
Com a aquisição do primeiro colete salva-vidas, em meados do ano 2.000, passou a ser obrigatória a utilização deste equipamento em toda missão sobre meio líquido, por meio do Procedimento Operacional Padrão que confirmou a Diretriz de seu emprego. O colete salva-vidas da EAM (Eastern Aero Marine), modelo KSE-35HC2L8, foi utilizado até o ano de 2016, atendendo à todas as expectativas. Porém, com o passar dos anos foi observada a necessidade de evoluir neste tipo de equipamento, fato que foi percebido pelo Sub Ten PM Res André Vieira, que juntamente com outros policiais militares, era defensor de um novo modelo de colete, sendo o primeiro a utilizar e testar, desde março de 2011, por aquisição particular, modelo semelhante ao adquirido e utilizado nos dias de hoje.
Adequação às necessidades
Visando adequação à atividade aérea exercida pelo GRPAe em suas diversas modalidades de policiamento, principalmente referente às missões de Defesa Civil, foi adquirido após estudos e testes realizados, um novo modelo de colete que atende as necessidades dos pilotos e dos tripulantes operacionais. Possui algumas características importantes, tais como: como possibilitar a sua utilização sem a retirada do capacete de voo, design ergonômico, entre outros aspectos positivos.
Respirando embaixo d’água
Com a aquisição dos coletes salva-vidas, se houvesse a queda da aeronave na água teríamos como flutuar, no entanto, há um lapso de tempo entre a queda do helicóptero no meio líquido, parada total dos rotores e a imersão completa da tripulação, ou seja, ainda faltava algo a ser complementado. Pensando nessa lacuna foi agregado mais um equipamento, o HEED 3 (Helicopter Emergency Egress Device): um cilindro de ar comprimido com dimensões e peso adequados às necessidades dos operadores.
Tal equipamento foi inventado por uma necessidade do mergulhador Larry Williams, que em seu primeiro mergulho noturno foi protagonista de uma tragédia. Sem ar a 140 pés, sem sistema alternativo de ar, e seu companheiro de mergulho próximo. Ele entrou em pânico por um momento e começou a nadar rumo à
superfície. Seu último pensamento foi “Se eu tivesse apenas mais uma lufada de ar”. Ele desmaiou perto da superfície. Felizmente, o barco de mergulho arrancou-o da água a tempo.
“Uma noite eu estava mergulhando à procura de lagosta nas águas frescas e claras da costa da Ilha Catalina. Depois de um curto período de tempo, percebi que não tinha conseguido verificar meu suprimento de ar. Quando fui verificar, eu respirei e descobri não existia.. Eu entrei em pânico por um momento … me juntei e nadei rapidamente para a superfície com a enervante sensação de que estava muito longe e eu não conseguiria! Ar muito acima na superfície, comecei a escurecer … meu único pensamento era … se eu tivesse apenas mais uma lufada de ar.
Durante dias depois dessa experiência, eu acordava suando durante a noite. Então eu comecei a notar um pensamento recorrente que tive … Foram as últimas palavras que eu recordei quando desmaiei … Se ao menos eu tivesse mais uma respiração. Por que isso estava voltando para mim uma e outra vez? Eu recebi uma segunda chance de viver por um motivo? Então me ocorreu. Há outros que não fizeram, não querem ou não vão conseguir … Há outros desmaiando e nunca mais acordando … Se tivessem apenas mais uma lufada de ar!
Então a história termina com o presente. A SPARE AIR nasceu e, com isso, meu compromisso de educar o mundo sobre o afogamento evitável e o mergulho seguro. Sinto que o mergulho é seguro, mas pode e deve ser mais seguro. Você também pode participar da missão e se tornar parte da história do SPARE AIR”. – Larry Williamson
Treinamento da Tripulação
Nada valeria se tivéssemos todos os equipamentos necessários e as equipes de voo não estivessem treinadas e preparadas para sua utilização. Este processo está se iniciando devido as recentes aquisições, em um primeiro momento com os tripulantes operacionais no Estágio de Aperfeiçoamento Profissional (EAP) que é realizado anualmente, e em que os operadores ficam atualmente 04 (dias) na BRPAe Sorocaba, ratificando os procedimentos e massificando os treinamentos, sendo que um dos módulos de treinamento são as técnicas de utilização do colete salva-vidas, nados utilitários, HEED e saída da aeronave submersa, através de um protótipo para treinamento que pode ser utilizado em piscina de baixa profundidade, desenvolvido pelo 1º Sgt PM Leonardo da BRPAe São Paulo. Posteriormente, farão parte dos treinamentos as tripulações completas que irão compor as equipes de salvamento na Operação Verão no litoral Paulista.
Enfim, tecnologicamente falando, existiram avanços em nosso instrumento de trabalho operacional, o helicóptero modelo AS350 (Esquilo), apesar de apresentar aparentemente o mesmo estereótipo por anos, foi realizado ao longo desse período melhorias significativas proporcionando um melhor aproveitamento e segurança nas missões que são executadas pelo GRPAe. Devido ao processo de crescimento e amadurecimento dentro da cultura de segurança de voo, hoje não pensamos somente na missão a ser executada, mas em todos os processos que antecedem em muito o momento da execução da missão propriamente dita. No princípio nos faltava experiência e técnica, mas sobrava vontade de aprender e de executar. Nos dias de hoje, permanecemos com a mesma vontade de aprender e executar, porém, agora acompanhada de equipamentos específicos e adequados à missão, bem como técnicas desenvolvidas para melhor desempenho, em busca de resultados positivos e mitigação dos riscos através do gerenciamento no processo decisório. Quando combinamos todos esses fatores (Tecnologia, Equipamentos e Tripulação padronizada) a probabilidade de sucesso na missão é extremamente maior. Percebemos que o treinamento e a padronização demandam tempo, principalmente porque somos 11 (onze) Bases Operacionais distribuídas no Estado de São Paulo. No entanto, a eficácia não está calcada na velocidade do repasse do conhecimento e sim no tempo que aplicamos o conhecimento para sedimentarmos os procedimentos.
Bons voos!
Enviar comentário